Estilo internacional americano ao norte, arquitetura moderna brasileira ao sul
Edgar do Valle – formação e produção
Palavras-chave:
arquitetura moderna brasileira no Sul, estilo internacional, arquitetura meridional sul-americanaResumo
Dentre as consagradas vertentes da arquitetura moderna — reconhecidas por suas coincidências fundamentais e universais, mas também por suas pluralidades conceituais e formais —, as vanguardas construtivas contextualizadas nos movimentos neoplasticistas do De Stijl holandês e racionalistas oriundas da Bauhaus, em particular da ascendência de Mies van der Rohe, tiveram influência significativa nos modos de vida e arquitetura moderna americanos a partir do pós-guerra. Consequentemente, a internacionalização desse processo de disseminação, em especial do chamado international style, ao contrário do que a crítica sensacionalista denuncia, incorporou sincretismos e dialogou com idiossincrasias locais de todos os gêneros, em suas diversas manifestações, ainda que a universalidade da abstração tenha se mantido com pauta relativamente invariável do movimento artístico. As arquiteturas da região dos grandes lagos e da costa oeste norte-americana são prolíferas na experimentação dessas variáveis, cujas manifestações e diálogos posteriores em solo latino-americano, como nas obras de Richard Neutra na América Central e, em especial, a influência da produção arquitetônica de Mies van der Rohe associada às propostas de ensino de arquitetura em Chicago, fundamentam a incidência da abstração na região meridional latino-americana. O presente artigo busca explorar a influência de obras referenciais e sua relação com o ensino do projeto, tomando como caso a trajetória de Edgar Sirangelo do Valle, arquiteto gaúcho pertencente à terceira geração de arquitetos formados pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (19531959). Edgar produziu em Porto Alegre, sobretudo nas décadas de 1960, arquitetura francamente sintonizada com as vertentes modernas do norte dos Estados Unidos. Fato relevante nessas conexões é que, diferentemente de uma relação de influência entre centro e margem cujos filtros e interpretações estabelecem novos parâmetros, o arquiteto bebeu direto na fonte quando, nos primeiros anos de sua atividade profissional, foi contemplado com bolsa de estudos para curso de mestrado no Illinois Institute of Technology (Chicago-EUA), entre 1963 e 1965. Essa experiência no exterior foi determinante na sua produção no Brasil, onde Edgar, a despeito das contingências recorrentes de um contexto periférico, interpretou e adaptou aos seus projetos os princípios de Mies van der Rohe quanto à espacialidade, rigor construtivo e expressão visual.
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