PERMANÊNCIA DE EXCLUSÃO
O “quartinho” de empregada na modernização arquitetônica de Belém (PA)
Palavras-chave:
quarto de empregada, modernização, Belém (PA), arquitetura moderna, racismoResumo
Este artigo aborda a permanência do quarto de empregada nas casas brasileiras. Para isto, adota-se como base conceitual o pensamento crítico contra a perspectiva hegemônica, que revela a naturalização de comportamentos sociais em prol das classes dominantes. Selecionou-se o recorte temporal entre 1948 e 1960, no contexto de modernização de Belém (PA), quando houve uma produção de residências modernas na cidade. Sobre este mesmo período, foram realizadas uma pesquisa documental no jornal local A Folha do Norte e uma análise programática de projetos arquitetônicos residenciais de arquitetura moderna. Plantas originais de três casas projetadas pelo engenheiro e arquiteto Camillo Porto de Oliveira e plantas de apartamentos-tipo de alguns dos edifícios habitacionais em altura mais relevantes neste contexto foram as bases do estudo. A análise revelou três pontos importantes: a forte demanda de mão de obra para tarefas domésticas; a recorrência da presença do quarto de empregada nas residências analisadas; a adaptação deste ambiente a novos modos de vida, como a moradia em altura. A discussão aponta que mesmo diante do pressuposto de inovação – ao qual apontava a arquitetura moderna – e das adaptações do modo de morar, a arquitetura continuava a limitar o lugar da mulher negra e pobre dentro dos lares brasileiros. Faz-se necessário aprofundar o olhar sobre esse tema em discussões historiográficas da arquitetura, com a perspectiva de construir narrativas contra hegemônicas.
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